Em um estudo feito nos Estados Unidos da América uma em 110 crianças foi diagnosticada com autismo ou Transtorno do Espectro Autista[1]. Compreenda de uma vez por todas o que é o autismo, quais são as principais características, e o que fazer enquanto pai de uma criança que esteja provavelmente nesta condição.

O QUE É O AUTISMO?
O QUE É O AUTISMO?
O Autismo foi definido pela primeira vez por Leo Kanner, em 1943, que entendeu que os comportamentos da criança autista como “perturbações do contacto afectivo”[2].
O autismo “é uma alteração do desenvolvimento cognitivo que tem como consequências alterações ao nível da linguagem e da comunicação, envolvendo também a parte emocional com consequências comportamentais”[3].
DESMISTIFICANDO O AUTISMO
Kanner descreve o autismo como a alteração do desenvolvimento nos seguintes características[4]:
- Incapacidade para estabelecer relações com outras pessoas;
- Atraso e alteração na aquisição e uso da linguagem;
- Desejo obsessivo de imutabilidade no ambiente;
- Tendência para actividades repetitivas e ritualizadas.
É importante referir que estas são as características principais, mas existem diferentíssimas características, tantas que por vezes parece que difícil pensar que as pessoas abrangidas pelo autismo tenham alguma coisa em comum[5].
Podemos ainda dizer que estas manifestaçoes comportamentais estão presentes desde o nascimento até aos 36 meses aproximadamente, persistindo e evoluindo de modo diferente ao longo da vida[6].
25 SINAIS DE AUTISMO
As crianças com autismo podem manifestar[7]:
- Falha na interacção social recíproca, isolamento total, como se estivesse noutro mundo. Passividade diante dos outros, mas sem rejeição da presença.
- Aceitação do contacto, mas não busca o encontro.
- Dificuldade em expressar emoções.
- Contacto somente com adultos ou crianças mais velhas.
- Abordagem do outro na tentativa de interacção de modo desastrado e inábil.
- Estabelecimento espontâneo de contactos sociais, de uma forma particular, ingénua e unilateral.
- Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral, não acompanhada de tentativas de compensar através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímica.
- Fala limitada, com ecolalias (repetição de palavras, frases ou expressões).
- Ausência do jogo realista espontâneo, variado ou jogo social imitativo adequado ao nível de desenvolvimento.
- Repetição incessante de movimentos, rotina ou actividades específicas.
- Reacções comportamentais drásticas mediante mudanças como, por exemplo,
- trocar de lugar um objecto.
- Presença de rituais (Ex. : antes de sair de casa tem que…; na hora do banho deve
- sempre…).
- Mania da perfeição; tudo deve ser simétrico e não pode ficar fora daquele lugar.
- As actividades repetitivas são frequentes, no entanto as reacções a mudanças são
- menos importantes.
- Os jogos do tipo “faz de conta” são ausentes; o que é possível observar é a cópia
- do jogo de outras crianças. Pode reproduzir em jogos situações do dia a dia, mas
- o faz de conta que introduz elementos novos e criativos é difícil.
Todas estas características foram resumidas por Rogers, Dawson e Vismela, ao afirmarem que a existem áreas em que a maior parte das crianças com autismo têm dificuldade[8]:
- Prestar atenção as outras pessoas.
- Utilizar sorrisos sociais.
- Tomada de turco e enuolver-se em brincadeiras sociais.
- Utilizar gestos e linguagem.
- Imitar os outros.
- Atenção coordenada (olhar fixo) com os outros
- Utilizar os brinquedos da forma típica.
O MEU FILHO TEM ALGUNS DESTES COMPORTAMENTOS, O QUE FAÇO?
Uma boa intervenção pode diminuir a gravidade do quadro clínico ou mesmo fazer com que uma pessoa anteriormente diagnosticada com autismo perca este diagnóstico[9].
Por mais que as coisas parecçam difíceis agora, existem acções que podem fazer uma grande diferença no futuro de uma criança diagnosticada com autismo e quanto mais cedo, melhor[10]. “Todas as crianças com autismo podem aprender a comunicar, a melhorar as interações sociais com os outros e a aumentar as competências de brincadeira”[11].
Mas não acabamos, ainda gostaríamos de dizer para você algo:
1 – Procure mais informações para confirmar ou descartar as hipóteses que levantou;
2 – Procure um profissional em Psicologia: só um profissional treinado e experiente é capaz de diagnosticar, não é que as outras pessoas não possam, mas a linha entre a doença e a sanidade mental às vezes é muito pequena, e mais do que diagnosticar, no caso de se confirmar a hipóteses, um profissional saberá dar um tratamento devido tanto para criança quanto para si;
3 – Compreenda que não é o fim: como vimos acima, é possível que uma criança anteriormente diagnosticada perca este diagnóstico, o que depende de muitos factores e não apenas da competência do terapeuta;
4 – Você não é culpado pelo diagnóstico do seu filho: o autismo atinge pessoas de uma condição económica baixa ou alta, de cor negra ou branca, etc. As causas específicas ainda são desconhecidas.
5 – Não minimize nem maximize o problema: se algumas pessoas podem chegar a viver em torno de um elemento da família, outras podem chegar a negligenciar este problema, a tratar ignorar, mas negar o problema pode agravá-lo.
6 – Não resuma a sua vida e a da sua família no diagnóstico de uma doença: às vezes os pais querem tanto que os seus filhos melhorem que se esquecem de cuidar deles mesmos e dos outros elementos da família. Existem alguém que provavelmente precise de maior atenção, mas não esteja desatento aos outros e a si mesmo, isso poderá fazer mal tanto a si como aos outros.
7 – Tenha uma boa rede de apoio: por mais difícil que as coisas possam parecer, ou de facto seja, o apoio de pessoas próximas a nós, que querem o nosso bem e fazem com que nos sintamos bem é essencial.
[1] Sally ROGERS, Geraldine DAWSON e Laurie VISMELA. Autismo: Compreender e Agir em Família, Lidel, Lisboa, 2015.
[2] Noémia Ramos COLETA, Crianças Autistas: A Balneoterapia como facilitadora dos processos internos, col. Epigénese, Desenvolvimento e Psicologia, Instituto Piaget, Lisboa, 2012.
[3] WING, Epidemiologia y teorias etiológicas, 1982. Em Wing e Everard, Autismo Infantil, Aspectos médicos y educativos, pp. 219-233 apud Noémia Ramos COLETA, Crianças Autistas: A Balneoterapia como facilitadora dos processos internos, col. Epigénese, Desenvolvimento e Psicologia, Instituto Piaget, Lisboa, 2012.
[4] Noémia Ramos COLETA, Crianças Autistas: A Balneoterapia como facilitadora dos processos internos, col. Epigénese, Desenvolvimento e Psicologia, Instituto Piaget, Lisboa, 2012.
[5] Cfr. Noémia Ramos COLETA, Crianças Autistas: A Balneoterapia como facilitadora dos processos internos, col. Epigénese, Desenvolvimento e Psicologia, Instituto Piaget, Lisboa, 2012.
[6] Noémia Ramos Coleta, Crianças Autistas: A Balneoterapia como facilitadora dos processos internos, col. Epigénese, Desenvolvimento e Psicologia, Instituto Piaget, Lisboa, 2012.
[7] Alice RASGADO In sebenta: Psicologia da Comunicação, Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela, 2019.
[8] Sally ROGERS, Geraldine DAWSON e Laurie VISMELA. Autismo: Compreender e Agir em Família, Lidel, Lisboa, 2015.
[9] Cfr. Sally ROGERS, Geraldine DAWSON e Laurie VISMELA. Autismo: Compreender e Agir em Família, Lidel, Lisboa, 2015.
[10] Cfr. Sally ROGERS, Geraldine DAWSON e Laurie VISMELA. Autismo: Compreender e Agir em Família, Lidel, Lisboa, 2015.
[11] Sally ROGERS, Geraldine DAWSON e Laurie VISMELA. Autismo: Compreender e Agir em Família, Lidel, Lisboa, 2015.