Piaget é considerado por Xypas como um autor que muito falou sobre a educação, no entanto, muitos dos seus textos que abordam esta questão foram esquecidos. A verdade é que desde muito cedo (adolescência) Piaget se interessou por este tema. Filho de pai … e mãe protestante e cristã, Piaget lidou com uma certa intolerância (de pensamento) desde muito cedo, no seio familiar.[1]

A par do Jean Piaget considerado epistémico, que desenvolveu uma teoria do desenvolvimento cognitivo, Piaget foi também um humanista que via na educação a solução para muitos dos problemas do mundo na altura, mas que até aqui permanecem actuais. Não foi por acaso que Piaget aceitou cargos na UNESCO.[2]
Mas a questão que se coloca é: como Piaget entendia a educação? Como seria a educação segundo Piaget?
AS INFLUÊNCIAS DA EDUCAÇÃO SEGUNDO PIAGET
Na sua adolescência, Piaget teve o prazer de aprender com diferentes intelectuais, foram eles: o responsável do museu do Natural Paul Godet, o seu padrinho Samuel Cornut e o seu professor de filosofia Arnold Reymond. Todos eles tinham um ponto em comum, a forma como transmitiam o conhecimento, que era baseado num respeito mútuo, onde se levava em consideração aquilo que o aprendiz dia. No caso específico de …. (responsável do museu), ensinou Piaget a pensar, a observar, a aprender por meio da acção. [3]
Para além disto, Piaget foi membro por muito tempo do BIE (Bureau International D’éducation), que era um instituto que tinha como ideal de aprendizagem aquela em que o sujeito é considerado o centro da aprendizagem e que o professor deve apenas fornecer caminhos, e na Liga Internacional para a Educação Nova. [4]
A TEORIA DE PIAGET NA EDUCAÇÃO
“Piaget aborda a edcuação como psicólogo, é certo, mas a partir de uma problemática de filosofia moral. Consciente, desde a sua adolescência, de viver numa sociedade inhusta e rígida que gera o antagonismo e a violência entre os indivíduos, as classes sociais e as nações, o jovem Piaget é movido por sentimentos de revolta e quer refazer o mundo.” [5]
Piaget acreditava em “uma certa forma de educação que promove a liberdade de opinião e a liberdade de consciência. Portanto, é preciso educar – de outra forma – as novas gerações para formar novos cidadãos capazes de mudar, de transformar, de melhorar a sociedade.” [6]
“O seu objectivo é promover uma sociedade mais justa e mais solidária, mas ao mesmo tempo adultos mais livres e mais responsáveis, já que mais razoáveis. Uma sociedade mais justa, é certo, mas também menos conformista, menos dirigista e menos autoritária; indivíduos mais livres, sim, mas menos individualistas e menos egocêntricos.” [7]
Entre os adeptos de uma submissão dos indivíduos total diante da sociedade e os adeptos do individualismo, Piaget vê uma terceira possibilidade, que é a conciliação das primeiras. É como se se tratasse de uma sociedade em que os cidadãos tivessem autonomia no pensamento, mas reconhecessem, respeitassem e compreendessem regras sociais, são solidários uns para com os outros. Em suma, uma sociedade de indivíduos onde a solidaderiedade não morre. [8]
A TEORIA DO EGOCENTRISMO E DA COOPERAÇÃO
Na teoria de piaget já publicada em um artigo neste site foi possível perceber que o comportamento das crianças, caracteriza-se por um certo egocentrismo, que é diferente do egoísmo. O egocentrismo “é uma visão espontânea e evidente do mundo que se acredita partilhar com os outros, quando na verdade se trata de uma imagem pessoal e subjectiva que se generaliza. [9]
Este egocentrismo constitui um obstáculo para o conhecimento do indivíduo, e este vai perdendo progressivamente o egocentrismo na medidade em que, por meio da cooperação, o sujeito faz o esforço de pensar em grupo. [10]
Por exemplo: quando um professor divide uma turma em grupos e estes precisam de fazer um trabalho, durante a aula, os alunos precisam de cooperar, isto é, de reflectir, trocar ideias, para chegarem às conclusões desejadas.
Segundo Piaget, é por meio destes exercícios que é possível desenvolver formas mais complexas, menos subjectivos e, por conseguinte, mais objectivos de interpretar a realidade. [11]
É ainda importante considerar que a relação baseada na cooperação é aquela em que não existe um elemento de autoridade. [12]
APRENDER POR MEIO DA ACÇÃO
Piaget é conhecido por afirmar que o conhecimento não está no sujeito, nem no meio, mas é resultado da interacção do sujeito com o meio. Assim, é agindo no meio que o sujeito se torna mais conhecedor da realidade. [13]
Esta acção é de vital importância para que a aprendizagem se adquira de tal forma que para este autor não existe aprendizagem no verdadeiro sentido sem acção. [14]
Piaget dá tanta importância à acção que define a razão como “ a faculdade que nasce da acção”. [15]
O PAPEL DO PROFESSOR SEGUNDO PIAGET
“Quem nos leva a ser razoáveis, quem nos obriga a não nos contradizermos, a não deformar a verdade ao sabor da nossa fantasia, quem nos incita a argumentar racionalmente, a basear as nossas afirmações em factos verificáveis, senão a objecção do outro, a observação crítica do camarada, a censura do pai, o comentário ou as perguntas do professor?” [16]
Deste texto podemos perceber, como vimos anteriormente, que o professor desempenha um papel importante, na medidade em que o mesmo possui as ferramentas necessárias para o aguçar de um olhar mais atento, mais meticuloso, mais objectivo a respeito da realidade. O papel do professor é insubstituível e o mesmo guia e critica a investigação do aluno sem, no entanto, impor a verdade. [17]
A FINALIDADE DA EDUCAÇÃO
“A finalidade da educação consiste, pois, em libertar o homem do seu egocentrismo espontâneo para lhe permitir elevar ao universal.” [18]
[1] Cfr.: Constantin XYPAS, Piaget e a Educação, col. Horizontes Pedagógicos, Instituto Piaget, Lisboa, 1999.
[2] Ibidem.
[3] Ibidem.
[4] Ibidem.
[5] Ibidem.
[6] Ibidem.
[7] Ibidem.
[8] Ibidem.
[9] Ibidem.
[10] Ibidem.
[11] Ibidem.
[12] Ibidem.
[13] Cfr.: Alan SLATER e Gavin BREMNER, Uma Introdução à Psicologia Desenvolvimental, col. Epigénese, Desenvolvimento e Psicologia, Instituto Piaget, Lisboa, 2005.
[14] Cfr.: Constantin XYPAS, Piaget e a Educação, cit..
[15] Ibidem.
[16] Ibidem.
[17] Ibidem.
[18] Ibidem.