COMO EDUCAR SEUS FILHOS?

Como educar seus filhos? Não existem dicas mágicas que sejam 100% garantidoras de sucesso, mas se você.....

O mundo está cada vez mais moderno e diante deste cenário a pergunta “como educar os meus filhos” pode surgir. Muitos são os estilos parentes, cada pessoa tem uma forma de compreender a educação, resultado das suas experiências e de pessoas próximas. Algumas pessoas acabam sendo muito permissivas, outras muito autoritária, baseados em diversos argumentos.

A questão é: Será que a ciência tem uma resposta para a pergunta “como educar os filhos”, “será que existe um perfil ideal de pai”?

OS ESTILOS PARENTAIS

Bom, esta questão foi tratada num artigo passado, mas sob a forma do título “estilos parentais”, onde apresentámos os diferentes modelos encontrados pela ciência e qual é o estilo parental ou perfil de um pai/mãe ideal.

O ESTILO PARENTAL DEMOCRÁTICO OU AUTORITATIVO

De forma resumida, chegou-se à conclusão de que o melhor estilo parental é o estilo democrático/autoritativo. Mas o que é?

Basicamente os pais/mães democráticos(as) tem as seguintes características[1]:

  • Incentivam e respeitam a liberdade e autonomia dos filhos;
  • São responsivos às necessidades e opiniões dos filhos;
  • São abertos ao diálogo;
  • Exercem controlo somente quando necessário;
  • Explicam as razões das suas atitudes de controlo e deixam claro as suas expectativas para com os seus filhos.

Os estudos revelam que os pais que adoptam este estilo parental contribuem para o desenvolvimento psicossocial dos seus filhos e normalmente os seus filhos têm boa autoestima e sente-se bem psicologicamente. Normalmente os filhos de pais adoptam o estilo democrático têm menor propensão ao uso de drogas, depressão quando adolescentes[2].

Como afirmamos no início do artigo, alguns pais acabam sendo demasiado permissivos. Outros, pelo contrário, acabam sendo demasiado autoritários. O estilo parental democrático, de que se falou acima, é um estilo parental em que o pai/mãe não perde a autoridade, mas dá afecto, em que os pais punem os filhos, mas dialogam. Os pais são abertos com os filhos e dar liberdade, mas não perdem o controlo, são exigentes, mas sabem ouvir.

Há muito que em psicologia se fala da importância do equilíbrio, partindo do conceito de homeostase. Se o excesso não é bom, muitas vezes a excassez também é prejudicial. É necessário, portanto, que se procure o equilíbrio.

No mundo moderno muitos são os pais que acabam por dar ao filho um telemóvel com internet, que tem acesso a quase tudo, mas não conversam com os filhos sobre sexualidade, sobre a internet e os seus limites, etc.

Meios como computador, telemóvel, tablet são super importantes hoje, são, na verdade, extremamente necessário. Mas a entrega destes meios sem uma educação que dê bases sólidas para que o adolescente aproveite da melhor forma, saiba filtrar aquilo que é bom e distinguir daquilo que não é bom é de igual modo, ou se calhar, mais importante.

APENAS PUNIR RESOLVE?

Punições excessivas e até mesmo “umas palmadas” são métodos que, pelo menos em Angola, não são incomuns para educar os filhos. Mas a verdade é que a ciência já mostrou que uma punição não gera mudança.

Quantos são os “marginais”, também chamados de “gatunos”, em Angola que apanham, se ferem, quase morrem, vão para a cadeia, recuperam e voltam a cometer os mesmos actos?

Se, de facto, bater resolvesse as coisas, não haveria qualquer “aluno indisciplinado depois de umas boas palmadas”, que acontecem, é comum, e um estudo em Angola revelou que os professores batem os alunos porque acreditam que é o meio que gera mudança.

Existem, no entanto, casos em que depois de “algumas palmadas” a pessoa muda. Como explicar isto? O que a ciência explica, é que nestes casos, existe aquilo que se chama ganho secundário, ou seja, depois da punição, a pessoa experiencie os resultados positivos deste acto (não fazer o motivo do espacamento ou punição), aí ela se dá conta que, afinal de contas, fazer o que é certo é benéfico para si[3].

Não estamos, claro, com isto, a incentivar as pessoas ou pais baterem nos seus filhos. Até porque um acto de indisciplina pode ter diversos motivos, e cada caso deve ser analisado em função das suas especificidades, como nos ensina Noelma D’Abreu[4].

Mas, mais  importante que qualquer castigo, seja lavar a louça, limpar a casa, ficar sem computador ou telemóvel, é que a pessoa punida sabia de forma clara as razões que fazem com que o castigo aconteça e o que se espera dela.

EXCESSO DE BONDADE PODE SER UM ACTO DE MALDADE

Todos nós já vimos uma pai que faz tudo que o filho quer, que, independentemente do que o filho faz, ele sempre está a favor, que encobre os erros dos seus filhos. Sem perceber, este pai pode estar a criar um pessoa que no futuro não reconhecerá.

Aquilo que as pessoas são não é apenas resultado do que os pais o ensinam. Para além disto, uma série de factores podem estar a favor ou contra determinado tipo de comportamento, mas é importante que um o(a) pai/mãe  sempre será uma figura de destaque, que tem muita influência.

Mas por que excesso de permissividade por parte de um(a) pai/mãepode ser um acto de maldade?

Por um lado, o pai/mãe que sim a tudo, está a criar na cabeça da criança a ideia de que sempre terá tudo o que quiser quando quiser, o que não condiz com a verdade. É como se estivesse a criar, sem perceber, na cabeça da criança ou adolescente, um mundo que não existe.

Por outro lado, o excesso de permissividade poderá levar ao não crescimento da pessoa. Viver com a frustação de não se fazer o que se quer a todo o momento, permite-nos aprender a encarar situações difícies, a interiorizar regras, a entender que nem tudo é e será como queremos, necessárias para a vida em convivência.

Por isso, quanto mais cedo se apresenta o não, e se lida com a frustração subsequente (resutante desta), melhor se poderá lidar com situações similares futuras.

OS PAIS DEVEM SER AMIGOS DOS FILHOS

Sim e não. É importante que os pais sejam pessoas próximas, com características próximas da amizade, mas ele nunca deve perder a figura de autoridade (o que não significa ditadura).

A proximidade de pais e filhos é fundamental para o desenvolvimento psicológico saudável dos filhos. É necessário que haja comunicação e todos os elementos que já frizámos quando abordámos o estilo parental autoritativo ou democrático, mas isto não significa que os seus filhos devem subistituir esquecer que o pai é pai, e substuí-lo pelo amigo.

O EXCESSO DE RIGIDEZ NA EDUCAÇÃO

Se sim a todo o momento é mau, o não a todo o momento também. Existem pais que acham que o filho deve ser educado como um soldado, de forma muito dura. E não é bem assim.

Se por um lado quando os pais dizem “não” os filhos entendem que os mesmos não gostam deles, que não os compreendem, por outro lado ser demasiado rígido, controlador, protetor, tira uma autonomia necessária para que os filhos aprendam a lidar, eles mesmos, com determinados dilemas.

O PAPEL DOS PAIS

O papel dos pais é de garantir que o filhos terão o autonomia para, por eles mesmos, seguirem com a vida. Ser pai é ter a função de garantir que um ser será apto de encarar o mundo e para isto é necessário que algumas situações tenham de ser vivenciadas pelo próprio sujeito, sem a presença algo intrusiva do pai.

O papel do pai é servir de base, é dar a segurança de que nas situações X e Y poderá acontecer T, e que se quando precisar, ele estará ali para dar um suporte, mas que a sua vida é sua vida e que nalgumas situações o pai/mãe terá de ter pouquíssima interferência no processo.

Não é empurrar o filho ao mundo sem qualquer noção e dizer “vá e viva”, é dar a condições fundamentais, elementares, e dizer “você está preparado”, mas quando precisar, eu estarei aqui.

O momento em que isto vai efectivamente acontecer depende do desenvolvimento do filho. Mas durante o desenvolvimento sempre haverão situações em que o filho terá de as enfrentar, que por mais pequenas que sejam, são fundamentais para a maturidade que se quer.

ENTENDA QUE O SEU FILHO NÃO É APENAS A POSSIBILIDADE DOS SEUS SONHOS FRACASSADO

Existem estudos que explicam que os pais, antes mesmo do nascimento dos filhos, têm sonhos, projectos, expectativas. Essas expectativas são necessárias. É preciso que se saiba onde se quer ir, o que se quer para o filho, porque, do contrário, isto pode até causar uma insegurança do próprio filho.

No entanto, cada ser é ele mesmo, resultado de muitos factores, e forçar o filho a seguir um curso com o qual não se revê, pode gerar um profissional frustado. Até pode ser bom no que faz, mas pode não se sentir realizado no que faz.

UM FILHO NUNCA “SAI O TIO, AVÓ OU PRIMO DELE”

Para que o filho saia o tio, é necessário que ele seja filho do tio, e não da pessoa que acredita ser pai. Mas o que queremos dizer com isto?

Em Angola existe a falça ideia de que uma pessoa “saiu o tio, o avó, o primo”, existe uma tendência de procurar explicar o comportamento do filho baseado nas outras pessoas próximas da família.

O filho é a combinação do pai e a mãe. Fruto deste combinação (de genes) determinadas características surgem (dependendo da dominâcia dos genes). Portanto, os filhos não saiem os avós, pais, tios ou primos.

O SEU FILHO NÃO É APENAS RESULTADO DA SUA EDUCAÇÃO

Alguns pais/mães culpam-se pelo facto de um dos filhos não ter alcançado o resultado que se esperava. Mas isto não é apenas resultado do que o pai faz.

Existem estudos que explicam que não só os filhos se adaptam as características dos pais como os pais se adaptam as características dos próprio filhos.

Mas, espera aí, como assim?

O ser humano é hoje entendido como um ser biopsicossocial. Ou seja, ele nasce com determidas características, tendências, predisposições, que influencia o psicológico, que é influenciado por um ambiente em que a criança nasce.

Para entender isto,  gostaríamos de dar exemplo do temperamento e do carácter, que são elementos da personalidade.

A personalidade diz respeito ao conjunto de padrões de comportamento, pensamentos e emoções. Alguns estudos em psicologia dão que o temperamento é parte da nossa personalidade que nasce connosco e difícil de mudar. Já o carácter é resultado da interação do sujeito com o meio. Se estiver mais interessado sobre o tema, clique aqui. Portanto, existem coisas que coisas que não dependem de você enquando pai. Dê o seu melhor, siga os conselhos aqui dados, mas se não der ou deu certo, e você fez tudo certo, não se torture por isto. Existem coisas sobre as quais você não tem controle.


[1] Cfr.: Priscila LAWRENZ, Luísa Cortelletti ZENI, Thaís de Castro JURYARNOUD, Laura Nichele FOSCHIERA e Luísa Fernanda HABIGZANG, “Estilos, Práticas ou Habilidades Parentais: Como Diferenciá-Los?”. REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIAS COGNITIVAS, Ano 16, N.º1 (2020), pp. 2-9. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org >. Consultado aos 29 de Agosto de 2023.

[2] Ibidem.

[3] Elliot ARONSON, O Animal Social, col. Epigénese, Desenvolvimento e Psicologia, Instituto Piaget, Lisboa, 2002.

[4] Noelma Veigas D’ABREU, Entre Sonhos e Delírios, Texto Editores, Luanda, 2015

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